Foto redes sociais A última lembrança que Marcello Max de Queiroz Brandão, 25 anos, tem da mãe é carregada de amor e cuidado. Na última terç...
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A última lembrança que Marcello Max de Queiroz Brandão, 25 anos, tem da mãe é carregada de amor e cuidado. Na última terça-feira, um dia antes de a mulher ser assassinada, ele preparou o almoço para Ana Rosa Rodolfo de Queiroz, 49. Segundo jovem, mesmo com o estômago sensível, ela comeu e elogiou. "Foi a melhor comida que comi nos últimos tempos." O momento ficou registrado em uma foto que ela tirou do prato e enviou ao marido, Max Alexandrino Brandão, com quem era casada havia 29 anos. O velório de Ana Rosa será amanhã, às 16h, no Cemitério Jardim Metropolitano, em Valparaíso de Goiás.
Ana era motorista de transporte por aplicativo e foi assassinada no Cruzeiro Velho, após atender a um passageiro. As investigações apontam para latrocínio (roubo com morte), mas o crime pode ter outra tipificação. Uma análise pericial preliminar indicou que a vítima sofreu estrangulamento. A polícia colhe elementos para decidir se o assassino, identificado como Antônio Ailton da Silva, 43, será indiciado por latrocínio ou feminicídio.
Em entrevista exclusiva ao Correio, Marcello relembrou os momentos ao lado da mãe. Ele conta que, na terça-feira, Ana recebeu uma das notícias mais importantes na vida: que seria avó. A esposa de Marcello está grávida, e ele perguntou à mãe o que ela achava de ele ser pai. Ana Rosa sorriu e se emocionou. "Tenho orgulho do homem que você se tornou. Hoje você está preparado, estruturado", disse ela, abençoando a criança que está por vir.
Mesmo trabalhando como motorista de aplicativo, Ana Rosa tomava o máximo de cuidado. A família sempre a alertava para os perigos e pedia para que ela rodasse apenas em regiões mais seguras. Sempre cautelosa, ela procurava evitar corridas suspeitas. No entanto, menos de 24 horas depois, a mulher que dedicou a vida à família e ao próximo foi assassinada de forma brutal.
Na quarta-feira, Ana Rosa, que trabalhava como motorista de aplicativo para complementar a renda e juntar dinheiro para abrir sua própria clínica terapêutica, foi morta a facadas no pescoço, durante um assalto no Cruzeiro Velho. Antônio Ailton da Silva fugiu, mas foi capturado pela Polícia Militar após ser perseguido por populares no Sudoeste.
Lembrança
Marcello Max conta que a mãe esteve no hospital em decorrência de alguns problemas de saúde e fez uma promessa para Deus, que se Ele a deixasse viver para pelo menos estruturar sua família, Ele poderia levá-la depois. "Ela disse que só queria isso e foi dito e feito. Ela cumpriu a promessa, realizou e Ele a levou, apesar de ser do jeito Dele, que nós nunca entenderemos", contou Marcello, emocionado.
O filho mais velho de Ana Rosa enfatizou que se lembrará da mãe como uma mulher honrada. "Eu tenho muita gratidão por ter sido filho dela e sei que vou continuar dando orgulho a ela. Agradeço muito a Deus por termos tido tanto contato e amizade, principalmente nos seus últimos anos. Agradeço por um dia antes ter visto ela e recebido suas bênçãos e palavras orgulhosas dos meus feitos", afirmou.
Para as pessoas que a conheceram, Ana Rosa se preocupava com o bem-estar de todos ao seu redor. A vizinha Vivian Vicente Tavares, 43, lembra da amiga como uma pessoa ativa e participativa. "Ela sempre estava envolvida em questões do condomínio. Se algo precisava ser discutido, Ana estava lá, defendendo o que era justo. Está difícil acreditar e da ficha cair. Ela vai fazer muita falta para todos nós", lamentou.
Na manhã da tragédia, ela deixou uma última mensagem no grupo de moradores. "A importância de ver e saber os fatos antes de julgar ou condenar. Morar em comunidade e sociedade exige empatia e respeito mútuo. Meu direito vai até onde começa o do outro. Se cada um fizer para o outro o que deseja para si, tudo funciona. Que todos saibamos ser cada vez melhores e mas humanos uns com os outros", escreveu. Vivian disse que ela nunca havia feito isso antes. "De fato parecia uma despedida", ressaltou.
A síndica do condomínio onde Ana Rosa morava, Lecirrane da Mota, lembra com carinho da vizinha. Segundo ela, mesmo diante das dificuldades, a mulher nunca perdia a fé e sempre carregava consigo um espírito de generosidade. "Conheci a Ana desde que ela chegou ao condomínio. Eu era síndica na época e fui eu quem a recepcionou. Desde o início, dava para ver que ela não era uma pessoa de se isolar, pelo contrário. Ela sempre estendia a mão para quem precisasse, sem esperar nada em troca", lembrou.
Nos últimos dias, Ana falava bastante sobre o futuro e os planos que ainda queria realizar. "Ela sonhava em fazer melhorias na casa, ampliar os espaços, deixar tudo do jeitinho que sempre quis. Falava com orgulho dos filhos, estava muito feliz com o caminho que eles estavam trilhando e com a família que estavam formando. Mesmo depois de tantos anos de casada, dava para ver que ela e o marido ainda tinham uma relação de muito amor, cumplicidade e respeito. Era um casal apaixonado, isso era nítido", relembra Lecirrane.
Investigação
A análise preliminar da perícia indicou estrangulamento e levantou dúvidas sobre a dinâmica do crime e o indiciamento do autor. Segundo o delegado-chefe da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro), Victor Dan, o último ponto onde a mulher esteve foi na área central de Brasília, próximo ao Conic.
No local, ela atendeu a uma corrida de outro passageiro. Cerca de uma hora depois, o carro dela estava no Cruzeiro Velho. “Essa análise do tempo e dos locais está em averiguação. Sabemos que não houve registro de acionamento de carro para o Cruzeiro. A maneira como se deu esse deslocamento ainda é investigada”, destacou.
Ana foi encontrada no banco do motorista com ferimentos no pescoço e já sem vida. Antônio, o suspeito, tentou fugir, mas foi preso. As informações iniciais dão conta de que o homem anunciou o assalto e a vítima reagiu. Em seguida, ele desferiu uma facada no pescoço dela.
Mas a elucidação da sequência de fatos do crime pode mudar o indiciamento do autor de latrocínio (roubo com morte) para feminicídio. “Uma análise preliminar da polícia indicou que ela foi estrangulada. Não é comum, em casos de assaltos, a vítima ser estrangulada, a não ser que os dois tenham entrado em luta corporal. Encontramos no carro um fio de nylon, que supostamente foi utilizado”, ressaltou o delegado.
A polícia procurava Ailton desde a madrugada de terça-feira, quando ele tentou matar a ex-mulher e uma amiga dela, no Recanto das Emas. Tanto os familiares da vítima quanto a ex-mulher do autor negaram à polícia que Ana conhecia o suspeito. Os investigadores aguardam os laudos que determinarão a causa da morte. “O laudo deve sair entre 10 e 15 dias e, a partir daí, teremos um avanço quanto à confirmação do indiciamento. Por enquanto, é latrocínio”, informou o investigador.
Da redação do Conexão Correio com Metrópoles
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