Foto vídeo reprodução Em apenas um mês, duas brasileiras foram violentamente agredidas em Portugal. Na sexta-feira passada, uma adolescente ...
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Em apenas um mês, duas brasileiras foram violentamente agredidas em Portugal. Na sexta-feira passada, uma adolescente de 14 anos levou um tapa no rosto, foi jogada ao chão e, imobilizada, ainda recebeu uma sequência de socos desferida por uma portuguesa da mesma idade. No dia 24 de janeiro, a mineira Thaís Nery, 37, foi agredida a tapas, chamada de vagabunda e arrastada para fora de uma hamburgueria da moda, em Lisboa, pelos dois donos do estabelecimento, os espanhóis Juan e Luís Castilho.
As agressões contra brasileiras têm se tornado rotina em Portugal. Como não há punição exemplar pela Justiça portuguesa, os agressores estão se sentido cada vez mais autorizados a fazer o que bem entenderem. "Estamos diante de um quadro assustador, que parece estar saindo do controle, impulsionado pela impunidade", diz Rita Cássia Silva, antropóloga, pesquisadora e ativista. "É preciso que os legisladores, o governo e o Judiciário tomem posições firmes para proteger as mulheres", acrescenta.
A violência contra a jovem brasileira aconteceu na porta da escola em que ela estuda, em Santarém, região central de Portugal. A agressora, que estuda em outro colégio, fez tudo de forma calculada. Esperou a vítima na saída das aulas e a surpreendeu. Foi preciso que um grupo de estudantes se movimentasse para tirar a agressora de cima da brasileira, tudo registrado em vídeo por uma amiga da portuguesa e difundido como troféu nas redes sociais. A mãe da brasileira, Lucélia Marília Oliveira, de Fortaleza, soube da violência contra a filha pela televisão.
A agressora alega que reagiu a uma fofoca sobre a mãe dela, que é brasileira. Segundo especialistas, a explicação não justifica tanta raiva e violência. "O que percebemos é que a agressividade dos estudantes aflorou por completo depois da pandemia de covid", avalia Rita de Cássia. "E essa agressividade é alimentada pelo racismo e pela xenofobia", ressalta ela, que tem conduzido uma série de estudos sobre esse tema. "Nós, pais, estamos desolados, porque as autoridades não conseguem dar uma resposta concreta para transformar as escolas em ambientes mais acolhedores, de respeito e abertos à diversidade", complementa.
Para a antropóloga, "é preciso prevenir, o que exige um trabalho profundo por parte do Ministério da Educação, com campanhas envolvendo os pais, os professores, os estudantes e todos os funcionários que trabalham nas escolhas".
Marcas da violência
Thaís Nery ainda tenta entender o que aconteceu com ela. As marcas da violência no corpo desapareceram quase que por completo, mas a alma está dilacerada. Basta fechar os olhos para reviver o horror do último 24 de janeiro, quando a mineira decidiu almoçar com o ex-marido, um português, em uma hamburgueria da moda na capital lisboeta.
A brasileira com nacionalidade portuguesa conta que, desde a chegada à lanchonete, percebeu que algo estranho estava acontecendo. Assim que entrou no estabelecimento, ainda vazio, foi barrada por uma funcionária. Depois, ela e o ex-marido foram encaminhados para uma mesa. "Era uma brasileira com um português, coisa inadmissível para pessoas preconceituosas e xenófobas", disse ela. Depois que o ex-marido foi embora, e incomodada com o constrangimento, Thaís decidiu registrar uma queixa no livro de reclamações da hamburgueria, que, por lei, deve estar sempre à disposição dos clientes. Mas, ao pedir para falar com o gerente, Thaís acabou encaminhada para Luís, um dos proprietários, que estava em uma mesa próxima. Ele disse que a brasileira era muito mal-educada e, na sequência, deu dois tapas nas costas da brasileira. "Fiquei em choque", conta ela.
Nesse momento, Luís e o irmão pegaram Thaís pelos braços e a arrastaram para fora da lanchonete. Alguns clientes portugueses — a maioria, mulheres — passaram a atacá-la verbalmente. Foram muitos palavrões e cenas explícitas de xenofobia. Os empresários ainda chamaram a Polícia de Segurança Pública (PSP) para denunciar a brasileira, mas, quando viram as marcas da violência, os agentes a orientaram a procurar o Instituto Médico Legal (IML) para fazer exames de corpo de delito.
Da redação do Conexão Correio com Correio Brasiliense
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