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Três seguranças criminosos espanca inocente sob acusação de furto; veja

Arquivo Pessoal O vendedor ambulante Alison Souza Pedro, de 20 anos, trabalha desde a adolescência e, no domingo (20/4), pensou que iria mor...

Arquivo Pessoal

O vendedor ambulante Alison Souza Pedro, de 20 anos, trabalha desde a adolescência e, no domingo (20/4), pensou que iria morrer enquanto era espancado por três seguranças do Gran Plaza Shopping, em Santo André, na Grande São Paulo.

Além de sofrer fisicamente, com socos, pisões e até pauladas, ele também ficou ferido emocionalmente, porque foi acusado, sem provas, de furtar chocolates que havia acabado de comprar e cujas notas fiscais estavam com ele.

“Depois que sai das [lojas] Americanas um segurança me viu passar com a sacola [de chocolates] e veio atrás de mim. Sem falar nada, já foi me dando soco e falando que eu era ladrão, que tinha roubado as Americanas, e chamou outros seguranças. Aí saí correndo”, afirmou a vítima ao Metrópoles, no início da tarde desta terça-feira (22/4).

Alison foi perseguido até o estacionamento do shopping, onde foi contido pelos três seguranças que, de acordo com o trabalhador, o levaram para debaixo de uma escada, onde a violência foi desencadeada.

“Me deram socos, chutes, pauladas. Caí no chão e pisaram em minha costela. Eu conseguia ver tudo, mas meu corpo não se mexia. Enquanto me batiam, um dos seguranças afirmou para eu rezar para ficar vivo. Fiquei nessa hora pensando em minha família e orando pra não morrer, pra Deus me proteger”.

Após as agressões, cujo tempo de duração a vítima não soube mensurar, os segurança conversaram entre si. Um deles, então, ajudou Alison a se levantar e falou para ele sair correndo dali. A vítima obedeceu, mesmo cambaleando, e fugiu do estacionamento — no qual os funcionários do shopping ficaram com sua mochila, onde estavam os doces e as notas da compra, além do boné de Alison.

O espancamento

A agressão aconteceu nesse domingo (20/4). Alison havia ido à loja Americanas comprar chocolates para revender.

Em depoimento à polícia, ele afirmou conseguir o dinheiro para comprar os doces por meio de doações de frequentadores do shopping.

Quando saiu da loja, o trabalhador foi abordado pelos seguranças que o conduziram até o estacionamento com o argumento de que ele havia furtado os chocolates.

Alison foi espancado com chutes, socos e com um pedaço de madeira na nuca, que ficou com um grande hematoma, assim como o rosto.

Ele também foi agredido com pisões na costela, ainda conforme relatou à Polícia Civil.

O segurança que usou a madeira nas agressões espancou a vítima quando ela já estava quase desmaiando.

Além de quebrar o celular de Alison, o trio teria furtado o boné e a mochila de vítima, na qual estavam os chocolates e as notas da compra dos doces.

Os seguranças envolvidos na ocorrência foram afastados preventivamente.

O shopping informou que está conduzindo uma rigorosa apuração para adotar eventuais medidas cabíveis.

“Funcionárias choraram”

O vendedor ambulante correu até se aproximar de uma farmácia, em frente a qual constatou que seu celular havia sido quebrado pelos seguranças. Ele comprou um medicamento no local e, após encontrar um amigo — que também vende chocolates na rua — conseguiu entrar em contato com familiares.

O tio de Alison, Robson Batista Pedro, 49, foi de encontro ao sobrinho. Quando soube da motivação para a violência, acompanhou Alison até às lojas Americanas.

“Quando eu cheguei lá, todo machucado, as funcionárias até choraram, porque me conhecem e sabem que eu sou trabalhador”, disse a vítima.

Os seguranças, acrescentou, deixaram parte dos chocolates comprados por ele na loja. A mochila, o boné e o restante dos doces não foram devolvidos ao vendedor ambulante até o momento. As Lojas Americanas ainda emitiram uma segunda via da nota fiscal, comprovando a compra feita pelo rapaz, antes de ele ser espancado.

Pai de menina

Um dos grandes medos de Alison, quanto era surrado, foi o de morrer e não poder cuidar da filha de 5 anos, que vive com ele. “Eu fico com minha filha de segunda a sexta-feira e a mãe dela [da qual ele é separado] passa os fins de semana com a menina”.

Alison acorda todos os dias às 5h para dar banho, café da manhã e colocar a criança na perua escolar. Depois disso, por volta das 10h30, começa a trabalhar vendendo chocolates, na rua, ou perto de estações de metrô ou trem, de segunda a sábado. Antes disso, há cerca de dois meses, ele trabalhava como controlador de acesso, mas foi demitido.

Para garantir o sustento da filha, ele então começou a vender os chocolates. “Sinto uma revolta [por ter sido agredido]. Tenho família, minha filha, imagina se me dão mais pauladas e eu morresse? Quem ia cuidar dela?”.

Alison fez exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e registrou um boletim de ocorrência contra os seguranças. Ele ficou com hematomas na nuca e rosto, além de na costela.

O caso foi registrado como lesão corporal e dano pelo 6º DP de Santo André, que investiga a conduta dos seguranças.

O que diz o shopping

Procurado pelo Metrópoles, o Grand Plaza Shopping disse que não tolera nenhum tipo de violência. Em nota, afirmou que os colaboradores e funcionários terceirizados do local “são orientados e treinados nesse sentido”.

A Americanas afirmou ter dado apoio a Alison e ressaltou que os agressores não são colaboradores da empresa. Ainda assim, repudiou o ato de violência.

A reportagem não localizou os seguranças. O espaço segue aberto para manifestações.

Da redação do Conexão Correio com Metrópoles

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